6.6.10

Ao contrário

Por que ninguém percebe que a comida é o de menos? Eu quero sangrar, não quero comer. Eu quero terminar com esse sofrimento sem voz. Deixem-me fazer isso, por favor. É insuportável, por favor.

15.5.10

Conversa

Eu não posso cuidar de você. Eu já não tenho vida. Já não sei o que é viver ou se alguma vez o soube. Parece que estou sempre dormindo, que tudo o que me passa é irreal. Mas eu não acordo. Espero acordar, mas não acordo, nunca. E a cada novo dia é pior. Eu continuo dormindo. É como se eu jamais tivesse mesmo tido vida.
Me arrependo de não ter aproveitado muitos momentos. Porque eu me sinto sempre morta. Sinto que vivo em um mundo aparte de tudo. Eu gostaria de estar presente. Eu nunca estive presente. Deixo que os dias passem por mim, eu nunca passo pelos dias. É tão típico de mim! Sempre faço a mesma coisa. Nunca vivo nada, estou sempre esperando algo mais. Estou sempre contando dias, pensando no futuro que não terei ou no passado que não tive. O presente não existe pra mim.
Eu prefiro sofrer a vida do que vivê-la. Sempre é assim. Porque eu não existo. Eu só existo quando estou sangrando, quando estou me desfazendo em lágrimas, aí eu existo. Existo porque quero morrer. Se não quero morrer, não existo. Se não sinto dor, não existo. É tudo tão superficial que não é vida. É uma viagem, é um show, é um filme, não é vida. É algo que está acontecendo, não algo que estou vivendo, você entende? E eu não posso mudar isso. Porque não sei como e ao mesmo tempo não quero. Porque não suporto não sentir dor. É melhor do que não sentir nada.

10.5.10

Madrugada

Eu não entendo como você consegue dormir. Como todos conseguem dormir. Eu escuto o barulho da chuva, os ponteiros do relógio se arrastando. Eu me distraio com o medo. As minhas noites são parte de uma rotina que aparece quando o sol se esconde. Cada vez que me deito peço a mesma coisa: peço que não seja dia, que pra essa alma não exista amanhã. Então eu me lembro de que vivo exposta a perigos, e me pergunto se não seria o destino quem me protege deles. Porque eu penso em liberdade, penso no ar. Em voar no ar. O meu fim é o céu, é a eternidade.

4.5.10

Maquinalmente

Percebi que deixei de usar quase todas as minhas roupas, principalmente aquelas coloridas. Não combinam mais comigo, me fazem sentir estranha. Também os perfumes, dos quais gostava tanto, eu não uso mais. Percebi que não vejo mais televisão e são raros os livros que leio, os textos que escrevo. Um vício que fiz virar obrigação, só pra não perder o hábito. Percebi que durmo menos de quatro horas por noite, mas que o sono me faz falta. Pela primeira vez na vida acordei às quatro da tarde e me assustei. Percebi que peguei a mania de doar tudo o que tenho, a ponto de sentir falta do que, por impulso, tirei do armário. Percebi que não tenho mais aquele amor enorme por tantas coisas, que antes eram tão importantes. Já não me brilham os olhos, estou ligando pra tudo muito pouco. Percebi que estou cansando de tudo muito rápido. E querendo fazer tudo muito rápido também. Percebi que não sou tão inteligente e simpática como pensava. Que, na verdade, sou muito menos do pouco que via em mim. Via, porque agora não vejo nada. E, com dor, percebi que o que antes me fazia feliz, hoje não existe mais. Extinguiu-se, evaporou. Como evapora a água, como evapora a alma.

1.3.10

Muito tempo

Outra vez a vontade de ir embora, mesmo que ainda me falte descobrir pra onde. Desejos e imagens se misturam ferozes demais, tanto que a minha mente não consegue suportar. É muita força contida de maneira errada, e me falta garra, me falta peito, me falta corpo - e me sobra alma: a mesma que me vaza dos olhos, me escorre pelo rosto e me molha as mãos. Haverá o céu depois da vida? Aquele paraíso pintado de azul, aquele que inventaram os homens...

10.11.09

Mais uma vez

Mais uma vez estou aqui, me perguntando porque as coisas têm que ser assim. Por que eu tenho que ser sempre tão fraca? Nem quando preciso encontro forças, nem quando preciso mais ainda consigo lutar. Sei que nunca entenderei a minha mente doentia, eu só queria uma chance de poder respirar em paz... Sem que a minha barriga doesse sem trégua, sem que o meu peito apertasse tanto, sem que as lágrimas caíssem involuntariamente dos meus olhos, sem que essa dor me consumisse a alma. Eu só queria respirar... E que o ar me preenchesse o vazio, sentido às vezes tão cheio; e que o ar me fizesse explodir e me levasse embora, como um balão. Me levasse pro céu, pras núvens, pro sol. Pra onde tem luz, é pra lá que quero ir. Eu quero ver as cores.

17.9.09

Repetitivo

Não, ninguém sabe o que é não poder fechar os olhos porque voltar a abri-los é quase um pesadelo; não poder deitar e dormir porque acordar cada manhã é desesperador demais; não poder descansar em paz porque a vida é quase imposta, à força, cruelmente. Não, ninguém sabe o que se sente, como se sente. Porquê se sente. Se eu ao menos pudesse entender, talvez eu conseguisse mudar. Ou talvez eu não queira mudar. Eu só queria mesmo ser tragada pela terra, e que ninguém pudesse sequer lembrar da minha existência.