28.2.08

Saturação

Estou saturada dessa rotina, desses dias iguais. Desse tempo que insiste em passar lentamente, dessas cores, desses sons estridentes. Estou cansada dessa melancolia, dessas tardes sem vida, dessa vida sem graça... Dessa sucessão de dias, semanas, tanto faz.
Não aguento mais essas noites inquietas, noites de insônia; essas manhãs frias, cheias de sono. O caminho pra escola, todo o santíssimo dia, aquele sorriso falso que a gente dá. Não aguento mais a física, a matemática, a química; não aguento mais pensar. Não aguento mais a correria e a vontade de não fazer nada, não aguento.
Saturada. Eu estou saturada, meu cérebro está saturado. Meu corpo já não dá mais... Minha cabeça dói e eu não consigo pensar. Até perdi o dom de escrever por causa dessa canseira! E sabe qual é o consolo? Depois sempre piora. Que alegria!

26.2.08

Minha pior inimiga

Aquela que me odeia acima de tudo, que me diz que sou incapaz, que não posso vencer meus desafios. Que bloqueia minhas pernas quando eu quero andar, que me faz lembrar sempre do que eu não consigo fazer...
Ela é como uma sombra, está sempre atrás de mim. Me isola pra que eu chore sozinha, pra que eu não participe do riso. Me deixa desolada quando preciso de palavras de conforto; deixa minhas mãos atadas quando preciso agir.
Ela, que está presente em cada massacrante momento, me colocando pra baixo, me afundando mais e mais. Ela que não me deixa pensar positivo, que não me dá uma esperança se quer, não me dá alívio.
Aquela que me faz desistir da vontade, cair na conversa mole do perigo. Que me pega de surpresa quando tudo está indo bem e puxa meus pés, cada vez com mais força, até que eu caia. E depois eu não consigo levantar, porque a voz dela é cruel e me repete sempre que não adianta tentar.
Ela me faz sentir como se eu fosse um pedaço do nada, o nada partido, só. Qualquer coisa sem valor, que não tem coragem de lutar pelo que deseja, que não acredita em si mesma.
Ela, sempre ela. Não me deixa viver, não me deixa pensar aonde posso chegar (porque sim, eles me dizem que eu posso), não me deixa tentar... Ela que vive em mim; ela que é a minha outra parte, aquela que sempre aparece nas horas em que eu quero ser capaz. E ela sempre lá, me dizendo que não...
Porque ela sou eu. Minha pior forma, meu pior pesadelo. E não dá pra fugir...

22.2.08

Aquela falta

Pela primeira vez escrevo sem ter mesmo o que dizer. Mas meus dedos pedem por isso, por apertar essas pequenas teclas pretas, quase incontrolavelmente. Minha cabeça pede por reflexões, pensamentos atordoados, contraditórios, tão constantes. Meu coração pede por sentimentos devastadores, porque está realmente acostumado. Meus olhos pedem por lágrimas, aquelas que tanto molham meu travesseiro; por aquele sal que arde, que tanto vicia, que inunda.
E ontem eu chorei. Chorei porque às vezes não aguento viver. Às vezes a vida me sufoca, me enforca, me afunda. Às vezes dói. E eu não durmo quando dói.
Ontem eu não dormi. Ontem eu só pensei em você, nonna, e em como eu sinto a sua falta. Ontem eu pensei em como a vida seria diferente se você ainda estivesse aqui comigo... Ontem eu vi as suas fotos; li as suas palavras atrás daquela foto, a sua letra quase parecida com a minha; aquele seu jeito de segurar a caneta, tão suave. Eu quase toquei suas mãos. Ontem eu quis que o tempo voltasse, como tantas outras vezes. Eu quis poder ser criança, poder te abraçar de novo, só mais uma vez. Ontem... ontem a vida me machucou. Tanto que as lágrimas salgadas incharam meus olhos.
Eu chorei por você. Chorei porque eu preciso de você. Chorei porque você foi embora... E porque a sua ausência é a minha maior dor. Mais do que todas as feridas feitas com o chicote da vida, é aquele vazio que sangra mais. Aquela falta de você. Aquela falta que ficou quando você se foi. Aquela falta...

16.2.08

Minha ausência

Fraca... eu sempre fui fraca. Nunca corri atrás do que queria, mesmo que o quisesse muito; sempre desisti muito fácil da batalha. E não vejo nenhum jeito de mudar isso.
Eu sempre soube distingüir o caminho certo do caminho errado, mas, quase como se fosse de propósito, escolhia sempre seguir o segundo. Muitas vezes quebrei a cara, como todo mundo... E talvez o meu mal tenha sido pensar que as minhas dores eram insgnificantes comparadas às dores dos outros; que sempre tinha alguém sofrendo mais do que eu; que o meu momento ruim era besteira e que só a fome na África era preocupante. A verdade é que eu nunca aceitei não conseguir carregar o mundo nas costas. Nunca aceitei esses braços fracos, essa pouca vontade, essa falta de determinação. Nunca aceitei o meu jeito de lidar com as coisas...
Talvez eu nunca tenha estado diante de uma situação que me exigisse demasiada força. Talvez nunca tenham me colocado contra a parede pra que eu me sentisse pressionada a ponto de reagir. Ou talvez eu não quisesse mesmo reagir. Era tudo tão fácil...
Mas agora é diferente. Por acaso alguém me perguntou se eu queria lutar? Por acaso me deram uma segunda opção, uma segunda estrada? Eu tive alguma chance de escolher o caminho errado, o caminho mais fácil?
Eu nunca lutei. Minhas espadas gritavam, reprimidas dentro do meu peito, pedindo pra darem as caras, pra perfurarem corpos, pedindo por guerra. Mas eu sempre as contive, a ponto de espiarem o sangue no chão, sem poderem derramar mais nenhuma gota. Eu sempre as guardei, as protegi. Sempre por medo. Medo de perder, de me machucar, de me sentir uma inútil que, mesmo com armas, não consegue matar ninguém.
Querem saber? Eu sempre fui uma inútil. Sempre me senti assim. Nunca fiz por merecer, nunca venci os meus limites, nunca achei que estivesse bom. Porque eu queria mais! Sempre mais!
Agora eu entrei em um beco sem saída... E o demais que eu queria está se jogando em cima de mim. Eu não posso voltar, o muro de concreto não me deixa passar. E minhas pernas fracas, ah... Essas não conseguiriam fugir, nem se quisessem. Porque não posso mais. É hora da guerra; é hora de vencer ou vencer. Por isso, tenho que estar determinada, como jamais estive. Tenho que deixar que o frio percorra todas as veias do meu corpo, que congele minha alma. Tenho que viver como se eu não existesse, como se fosse outro alguém. Alguém que realmente tenha forças. Um alguém que eu nunca soube ser, mas que tampouco posso fugir dele.
Mas pulsa na minha mente a pergunta que me atormenta... Qual é o motivo de toda essa palhaçada? Pra quê tanta tortura? Afinal, a guerra é dos poderosos. A corda sempre arrebenta do lado mais fraco. Sempre do meu lado; sempre dentro de mim... Sempre arrebentada, destruída, fracassada. Sempre eu. Pra sempre eu.

4.2.08

Dentro e fora

Arrumar o quarto. Tirar o pó, varrer cada cantinho, passar pano em tudo. Trocar as coisas de lugar, mudar a arrumação, enfeitar de novo. Novas cores, novas bonecas, novas caixinhas e pelúcias. Trocar as fotos do mural; trocar até os porta-retratos de lugar. Trocar tudo, mudar tudo, arrumar tudo, ajeitar tudo. Algum propósito?
Talvez não tenha nada a ver com o quarto. Talvez tenha a ver com a vida. Talvez seja uma tentativa fracassada de organizar a mente, o coração, a alma. Trocar os pensamentos, mudar meu gênio, mandar nos sentimentos, viver! Porque nunca foi possível arrumar-nos por dentro tão facilmente, mas o meu cantinho eu arrumo do meu jeito, quando eu quero, sem maiores complicações.
Será que adianta?

2.2.08

Já não mais meu balão

O amor não perdoa. Sempre nos puxa pelas pernas no momento em que menos esperamos. Quando tudo parece um sonho, dos mais lindos, você acorda. O mundo cai nas suas costas, a sua cabeça explode com idéias e pensamentos que mudam totalmente a cada cinco minutos e, de repente, você não sabe mais porque está naquela situação. É como se você fosse uma criança, com um balão de gás na mão, brincando no seu mundo, na sua felicidade, quando, sem explicações, alguma coisa estoura o seu balão. O vento, um galho de árvore, a unha de alguém. E você fica ali, perdido, sem rumo e sem balão. Você não sabe se pensa numa razão pr'aquilo tudo ou se chora por ter ficado sem a sua fantasia, sem o seu balão. E o que você faz agora?
É assim que eu me sinto. Uma criança sem o seu balão. Os sonhos eram lindos até aquela maldita noite... E só de pensar que a idéia foi minha... Mas só a idéia, não a culpa. Diferente de todas as outras vezes, eu não tive a culpa. Alguma coisa estourou o meu balão e eu simplesmente não vi. Não percebi que talvez ele estivesse chegando perto de um caco de vidro ou de alguma coisa que pudesse machucá-lo. Talvez eu não o tenha cuidado como deveria, mas o meu balão era leve demais. Foi levado pelo vento, sem que eu pudesse impedir qualquer coisa.
E o coração, pra que falar desse ainda? Tão sem regras, tão sem dó. Não se contenta com pouco; o sofrimento deve ser servido na maior porção possível. Saboreá-lo devagar, é tão demais que a refeição deve ser lenta. E demora, demora, demora... E você se cansa de lutar contra isso, de acabar com ele. Esquecer? Uff, nunca existiu coisa mais difícil! A presença que te mata, a palavra que te sufoca. A sua garganta nunca esteve tão entalada e você, tão afogada, tão miserável.
Pensar no amor é como não pensar em nada... Não existe definição, explicação ou qualquer coisa que o valha. Em um minuto ele existe, no outro é forçado a desaparecer pela alma sofrida. Ele está ali, oculto, como uma ferida aberta, profunda, sangrando. Você não tem como curá-la, ela deve fechar-se sozinha... Mas parece que até a eternidade é menos tempo do que o que levará pra que se cure. Enquanto isso, você dá atenção àquele turbilhão de idéias na sua cabeça, quando nada faz sentido e nada parece certo. O que fazer quando cada parte do seu corpo pede uma coisa diferente? Cada pensamento teu é um ato com consequência? Sem ação, assim eu fico. Sem ação. Esperando que passe o tempo, que corra a areia, que caia a chuva, que molhe o chão. Que, talvez, o vento traga de novo o meu balão. Ou não.