20.7.09

Bulimia

Quero vomitar o yogurt, a raiva, o mal estar. Quero vomitar o queijo, a sensação de abandono, essa solidão que nutre cada espacinho do meu corpo, muito mais do que qualquer alimento. Quero vomitar o pão, as brigas, as lembranças de quando o desespero toma meu corpo e eu só vejo o escuro. Quero vomitar também o chá e tudo o que faço de errado, toda a culpa que me consome. Quero vomitar tudo o que já comi na vida, tudo o que já senti na vida, o sabor amargo da vida; o sabor alguma vez doce do amor, o quente de um abraço que eu não posso receber. Hoje chove e faz frio, hoje só quero fechar os olhos e fingir que eu não existo, que você nunca existiu. Hoje não vou mais lutar, eu vou vomitar a minha alma.

Estuprada

Queria saber o que escrever aqui. Queria que as letras ocupassem de novo o espaço em branco quase sem controle, a não ser pela velocidade freada dos meus dedos inúteis. Queria ter palavras para explicar o que se sente, como se sente. Ao invés disso, só sinto.
Eu estou cheia. Tapei com comida exagerada esse buraco aqui dentro, essa parte vazia do meu estômago e do resto do meu corpo, aquela parte cuja existência é totalmente ignorada pelos outros. Se pudessem me entender, se ao menos quisessem...
Esse mesmo buraco falsamente tapado continua doendo. Tanto que me faz querer rasgar minha pele, esvaziar minhas veias de todo o sangue que aqui dentro circula, descansar em paz. Em paz?
Não existe paz. Não existe descanso pra essa mente conturbada, realidade deturpada, estuprada. Não existe nada, nem o fim do tunel. Existe um poço sem fundo e só.

17.7.09

Sobre a farsa do amor

O amor é. Ele apenas é, sem mais. Sem explicações, sem condições, sem motivo. Ele existe acima de tudo, bem disposto, desregrado. Ele existe e só.
O amor tudo aceita, tudo entende, tudo perdoa. O amor tudo sente e sente, para sempre. O amor não é egoista nem malcriado, é simplesmente sonhador. Sonha com beijos, com abraços, com uma casinha a dois. Sonha com o futuro, mesmo que o futuro seja o amanhã, literalmente.
O amor não se deixa levar, não se deixa arrastar ou afogar. Ele está sempre firme, sua bandeira no mastro, e na cabeça, ilusões. A meta do amor é uma só: felicidade. E chega a ser estúpido o quão bem se sente quando se ama. E chega a ser estúpido...
Porque o amor é exagerado, é pulsante, é ardente. É dor, muitas vezes é lágrima. Todas as vezes é lágrima. Todas as vezes eu choro, todas as vezes. E pra onde vai o amor que escorre pelo meu rosto?