30.5.08

Eu estou bem

É incrivel como a necessidade de escrever vem junto com a melancolia, com uma tristeza repentina, descrença na vida. E hoje eu voltei a pensar em você. Pode acontecer, como diz aquela música da Laura.
Foi um dia normal, como outro qualquer, e eu nada fazia além de ler um livro bom - Meg Cabot, para ser mais específica. E de repente me invadiu um vento gelado, me invadiu seu cheiro, me invadiu você.
Eu sei que fiz a coisa certa. Sei que não estava escrito nas estrelas, sei que as suas palavras me enganaram cruelmente, sei que simplesmente não podia ser assim. E talvez eu até seja mais forte do que imagine, porque, se você quer mesmo saber, eu não chorei. Não chorei por você, não chorei por ter te perdido. O meu rosto, até hoje, está seco. Nenhuma lágrima percorreu minha face, o sal não molhou meu travesseiro, intacto.
É uma surpresa até mesmo para mim, que outras vezes me destruí em soluços e gritos abafados, que me deixei levar por uma morte disfarçada quando e cada vez que me via sem o seu amor. Ou talvez eu nunca o tenha tido, seria mais fácil explicar o motivo pelo qual tudo acabou assim, tão de repente.
Eu estou bem, se você quer saber. E você não quer saber, eu sei, então eu digo a mim mesma, para tentar me convencer. Eu te juro, eu me juro, eu estou bem.

10.5.08

Sem explicação

Coisas que ninguém entende: o amor, o tamanho da dor e o fanatismo. Não posso dizer que acho ridículo, porque sou uma fã também. Sou daquelas que ama intensa e inexplicavelmente, que chora de emoção, que daria a vida por um abraço de um ídolo. Não é coisa de gente maluca, é coisa de alma. Quando toca e arrasa, quando entra e fica. É coisa que não se entende e tampouco se explica. É dor que se sente por impotência, por não poder estar perto. É vontade de jogar tudo pro alto, de realizar aquele eterno sonho. É saber que aquela música te faz bem, te faz crescer. É perceber que cada palavra é absorvida e tatuada, que te ensina mais do que qualquer escola. É, acima de tudo, amor incondicional por alguém que nem imagina a sua existência, mas que sente, e como sente, tudo o que você transmite através das vibrações. Não é medido nem regrado, é apenas amor. É amor diferente, amor especial, amor que te alimenta e te faz gente. Amor que te completa tanto quanto outros amores da vida. É tudo, tudo. E não tenho vergonha de amar desse jeito, não tenho mesmo... Por mais ridículo que possa parecer.

7.5.08

Desabafo secreto

Ontem mamãe me disse: Pára de chorar por tanta besteira, não é o fim do mundo. Ah, se ela soubesse... Se ela soubesse que o fim do meu mundo é o fim de qualquer coisa pela qual vivo; somente por momentos e não por um futuro, pura e simplesmente respirar é a minha vida.
Mãe, se você soubesse de tudo o que acontece comigo, se soubesse que meu coração tantas vezes quis deixar de bater, se soubesse que tenho vontade de gritar que não pedi pra nascer... Você se decepcionaria comigo, é certo, como sempre me decepciono. Não sou normal, mãe, nunca serei como as outras pessoas...
Eu sinto dores exageradas, que rasgam minha alma a punhaladas, dores que não perdoam. Eu sinto um ódio repulsivo por essa vida de tantas guerras, somente porque nunca soube lutar. Eu sinto uma vontade avassaladora de fugir, de deixar esse mundo, de largar dessa sina de viver meus dias sempre iguais. Eu, mãe, alimento sonhos quase absurdos, impossíveis para qualquer ser humano. Ou talvez não, mas eu nunca fui otimista, você sabe bem. Eu nunca me achei capaz de realizar nada grandioso, nada do tamanho imenso dos meus meros sonhos.
Mãe, vez ou outra eu gosto da vida; aprecio o verde da natureza e o canto dos pássaros nas manhãs de domingo, aprecio o vento calmo antes da chuva e o mar vazio de gente, mas são momentos em que esqueço o mundo lá fora. Esqueço que a vida é difícil, que tenho que ser forte; esqueço que sou estúpida e deprimente.
Sou deprimente, mãe, deprimente. E não faça nada por mim, porque eu não mereço. E talvez não te mereça, não mereça esse céu que jaze sobre a minha cabeça e do qual tanto quis e quero ainda fazer parte. Não mereço a vida, mãe; me perdoe, mas eu não mereço a vida.

6.5.08

Uma encomenda, por favor

Pra quem posso pedir presentes? Com quase meus dezoito anos na cara (não tão escancarados, devo dizer), não creio que Papai Noel ainda atenda aos meus pedidos. Antes sim, lembro-me bem, tantas vezes pedi presentes estúpidos, coisas de criança, e eu sempre ganhava o que queria. Não estou brincando, uma vez eu vi sua luva branca pela janela do quarto. Era um Natal como outro qualquer, mas ficou marcado por essa estranha presença. Também, primeira e última vez que tive provas reais da existência do bom velhinho. Imaginação minha? Pode ser, mas tenho a completa certeza de ter tido uma infância feliz e cheia de crenças tolas. Sonhos, meros sonhos, que hoje já não me satisfazem. Antes existisse Papai Noel...
O meu presente não é tão simples. Não quero uma boneca nova, como tantas outras vezes, nem uma viagem pra Disney, se pudesse ser mais ousada. Quero somente um amigo. Quem pode me presentear?
Isso mesmo, um amigo. Quero ter um amigo de "barriga da mamãe", daqueles que brincaram com você no cercadinho quando ainda usavam fraldas. E depois vocês foram pra mesma escola juntos, aprenderam a ler juntos, dormiam todos os finais de semana um na casa do outro. Os segredos eram sempre confessados, não importa quão embaraçosos, porque o outro sempre entendia; desde o chiclete roubado da padaria na semana passada até o primeiro beijo roubado na volta pra casa, numa tarde de verão. E a vida vai passando, e vocês vão crescendo juntos e a adolescência é aproveitada com uma vontade absurda de agarrar a vida, de brincar com ela. E passeios, viagens, telefonemas, noites de bebedeira, tudo vocês passaram juntos... E as responsabilidades vão chegando, as tristezas e agonias são compartilhadas nos ombros de ambos, sempre ali presentes para mesmo chorar juntos. Chega a faculdade e, mesmo que vocês não tenham escolhido o mesmo curso, ainda continuam se ligando todas as noites, para não deixar nenhum momento se perder, ser esquecido. E os filhos nascem, um se muda da cidade, e mesmo assim a amizade é mantida intacta, como uma flor bem cuidada numa redoma de cristal. Os anos chegam e, junto com eles, as rugas e as crises de identidade. Poderíamos ter feito muito mais da vida, não? Poderíamos ter aproveitado mais, não?
Na verdade, não. Porque aproveitamos juntos, nada mais poderíamos querer. E foi uma boa vida porque tivemos um ao outro... E fim da história! Entenderam agora? Eu quero um amigo.
Quero alguém para chorar minhas mágoas comigo, que me entenda independente de qualquer circunstância, que dê a vida por mim. Alguém que ria pra me fazer rir, que deixe de sair pra estudar comigo, que me convide pra fugir pra África porque também não aguenta mais o mundo. Um amigo, daqueles bem fieis, mais do que qualquer cão que já tenha pisado nessa terra, mais do que qualquer pessoa já o possa ter sido. Um amigo presente, sempre presente, mesmo quando eu não quero ver ninguém, mesmo quando a vida tenha me machucado tanto a ponto de eu querer fugir dela. Mas dele eu não fugiria, isso não... Porque ele é quem conhece todos os meus motivos e é a única pessoa que pode me convencer a ficar; e mesmo assim, se eu ainda quiser ir embora, ele se dispõe a ir comigo, porque não podemos ser separados. Quero um anjo da guarda, uma estrela guia, uma força, alegria. Quero de presente alguém cujos sonhos sejam tão grandes quanto os meus, para que possamos sonhar juntos.
O sonho na solidão é sonho pela metade, é sonho quase impossível. É sonho, somente sonho. E sonhos podem ser distruídos a qualquer momento, por qualquer facada. Assim como as que destroem os meus...

5.5.08

Não é nada, só isso

Ela me perguntou, naquele dia de meias palavras, o que tinha acontecido. E eu respondi que nada, que estava tudo certo. Ela não acreditou, simplesmente porque eu parecia seca, fria, quase indiferente. E eu realmente estava...
Não, não houve nada, e mesmo que tivesse havido. Eu nunca tenho nada, nunca sinto nada, nunca nada é o motivo. Eu só estava distante, como alguém que mora em Amsterdã, ou talvez como alguém enterrado há alguns anos. Eu só não estava ali, mas não faço idéia do porquê. A razão é sempre desconhecida, é sempre qualquer coisa. Eu não tinha nada.
Era um dia normal, uma quinta-feira talvez, não me recordo bem, e eu estava gastando com monossílabas o meu tempo de ócio. Ela me acompanhava, era certo, mas não o fazia de fato. Estava ali somente e também gastava tempo, porque eu não pedia pela companhia dela, mesmo que a desejasse com todas as minhas forças. Eu nunca o disse, ela morreria sem sabê-lo. Mas eu queria, sim, sua companhia. Não queria trocar palavras porque não era o meu dia, queria simplesmente ficar calada, ao lado dela. Porque, naquele dia em que eu não tinha nada, bastava o silêncio da presença dela, somente dela, para que eu estivesse bem. Não, eu realmente não tinha nada, e talvez ela nunca o tenha entendido, mas às vezes a alma é assim, confusa; às vezes somos atingidos e empurrados pra baixo por uma força escura, triste, desconhecida. Não entendo, não, mas queria que ela entendesse. Realmente queria, mesmo que não conseguisse me explicar.
E agora estou assim, sem saber o que eu tenho, ou não. Agora todas as nossas conversas são nulas e em mim, as lembranças de risos de outrora. Eu estou aqui, parada como uma rocha, e de todas as formas tento chamar a atenção dela; mas as minhas formas são travadas, comprimidas, não são as formas dela. E teria ela alguma forma?
O que eu queria fazer eu não faço, não sei porquê. E o que ela devia fazer tampouco o faz. E não fazemos, as duas juntas, nada. Não fazemos e queremos, não fazemos e morremos por dentro. Não fazemos e só.