28.1.08

De porcelana

Tanta fragilidade... É aquela bonequinha, tão pequenina, tão indefesa, tão sem proteção. Frágil. Essa é a palavra que a define. Sempre frágil, sempre exposta às dores da vida. Tudo a deixa mal, tudo a afeta de alguma forma.
Primeiro, a incerteza. Nunca teve certeza de nada e assim será até os seus últimos dias. Não pode tomar sequer uma decisão segura de si, totalmente sem medos. Não consegue deixar de lado o que sempre a aflige. Seria pedir demais viver sem medo, sem dúvidas, sem temores?
Também nunca soube quem realmente é e o que realmente quer. Essa crise existencial a persegue aonde quer que vá. Nas ruas, nos olhares, dentro dela! Está dentro dela esse fantasma que agarra sem piedade a sua mente e a sacode, como se quisesse que de lá caísse alguma coisa. Mas nada cai, só a deixa mais confusa! As idéias começam a girar e de repente ela não sabe seu nome. E o que fazer depois disso?
Pensa, pensa, pensa. Nenhuma resposta coerente! Fugir seria uma opção? Mas pra onde fugiria, assim tão frágil? Não tem resposta pra essa pergunta tampouco.
É, menina... A vida é cheia de armadilhas. E você, sempre tão dramática, sempre tão escondida em um canto qualquer, nunca teve a coragem de enfrentar os seus erros. Nunca teve a descência de seguir por um só caminho, de cumprir suas promessas, de lutar pelas suas metas. E você é feita de quê? De alguma coisa que quebra? Outra vez a fragilidade, essa que te corrói as paredes algumas vezes fortes do teu corpo inútil. Essa que faz com que você se esconda de si mesma, que abrace as pernas, sentada, chorando. Ah, suas lágrimas! As que tantas vezes insistem em sair mesmo sem que você esteja sozinha. É um desabafo, com certeza...
Mas você não pode ser tão sensível a ponto de chorar por coisa pouca, não! Na frente dos outros tem que se mostrar forte. Mas você nunca o foi... E o que te resta?

Resignar-se, sempre. Aceitar imposições dos pais, dos amigos, de todos! Aceitar que precisa mudar, que assim não está bom, que assim ninguém a quer. Mas como mudar algo que não conhece, menina? Como querer mudar o que é mais forte que você? Mas tente, tente pelos outros. Nunca nada por você, sempre pelos outros. Porque eles sabem o que é melhor pra você. Ou talvez não façam idéia e embaralhem outra vez a sua estrada, feita de caminhos desconhecidos, passos incertos, sempre tão perdida, escura, mal vista... É por onde você caminha, o que fazer? Não há saída.
Os seus sentimentos, você entende-os pelo menos? Nem mesmo isso... Insegurança, sempre ela. A raiva sempre presente do mundo que te cerca, o ciúme que faz sangrar a alma, aquela vontade incontrolável de colocar tudo pra fora, de qualquer maneira. E o amor... Ah, um amor maior que o mundo vive dentro desse pequeno coração, que muitas vezes é destroçado por palavras miseráveis daqueles que dizem te amar. Sempre te machucam, não é? Sempre te fazem sofrer! Malditos... Não sabem que você é frágil? Não sabem que não podem machucar assim alguém que não consegue encarar a vida?
Oh, meu Deus! Menina, você não pode encarar a vida... Não pode levantar a cabeça, não pode lutar com as suas próprias armas, não pode construir o seu destino! O que fazer com você?
Tem medo de tudo que a cerca. Tem medo do escuro, tem medo da solidão, tem medo das peças que a vida prega. Tem medo dela mesma, dos seus sonhos, do abandono! Nunca quis ficar sozinha, embora sempre soube, lá no fundo, que nada é pra sempre, que tudo acaba um dia. Que chegariam os tempos em que seguiria por ela, com suas próprias pernas; que confiaria nela e somente nela, porque inimigos existem aos montes e falsos amigos também. Talvez essa seja a única certeza que ela tem na vida: nada é para sempre. Nem mesmo a vida é pra sempre! Seria um pecado pensar em acabar com ela? Porque a menina frágil, por mais estranho que possa parecer, sempre quis aventurar-se e voar! Voar, voar, voar... Sem asas, mas voar. E quem sabe, lá no céu, ela encontre uma explicação pra todas as suas perguntas...

22.1.08

No espelho

Eu me odeio. Isso é um fato consumado, eu sempre me odiei. Nunca pude me ver como os outros me vêem, nunca pude acreditar no que me dizem sobre o que sou pra eles. Pode ser que me amem, mas são os únicos então. E tampouco acredito nisso. Ou às vezes sim, mas não consigo entender o motivo... Eu sou um ser repugnante. Talvez as pessoas o entendessem se conseguissem ver o que eu vejo. Talvez, se sentissem o que eu sinto, conseguissem pelo menos aceitar o fato de que é possível não existir amor próprio dentro de alguém. Claro, às vezes gosto de algumas coisas em mim - como a maneira de pensar crítica e racionalmente, o sentido de justiça, algum senso de preocupação com o mundo. Mas isso não é o bastante, definitivamente. O motivo? Nem eu entendo bem. Às vezes me dá raiva não ser compreendida pelas pessoas, mas como quero que me entendam se nem mesmo eu o faço?
É difícil encontrar o ponto que te irrita em você mesmo, porque, na maioria das vezes, você já está tão acostumado com o seu próprio jeito que não pensa que poderia ser diferente. Mas tem horas que eu penso, sim, que poderia ser diferente...

A primeira coisa que eu odeio em mim, e o que me faz odiar todo o resto, é o fato de eu sempre me culpar por tudo. As pessoas são infantis, as pessoas agem mal, as pessoas não pensam antes de dizerem coisas que possam me magoar, mas não! A culpa não é das pessoas, a culpa é sempre minha. Porque eu não sei lidar com as mentiras que as pessoas contam, porque eu não sei aceitar o fato de que não consigo controlar certas situações, porque eu não consigo contornar meus sentimentos - que são provocados por ações de terceiros. E por isso me sobe aquela fúria, aquele ódio de mim mesma, aquela vontade de enterrar uma faca no meu coração. Aliás, como existem pessoas que conseguem ignorar o coração? Eu gostaria de ser uma delas, sinceramente. Acho que meus problemas diminuiriam de forma bem considerável. Não sei porque me importo tanto com o que sinto; e mais, não sei porque deixo transparecer tão facilmente que não estou bem. E por que as pessoas não acreditam quando eu minto, dizendo que não aconteceu nada? Será que sou tão transparente a ponto de não acreditarem em minhas palavras? Ou será que digo palavras falsas, sem nenhum pingo de verdade?
Eu não sei, eu não encontro solução pra nenhum dos meus problemas. Pode parecer besteira, mas me perturba o fato de não me deixarem em paz. Vai lá, por que não posso me odiar? Só por que não me faz bem? Aham, tudo bem, mas e quando as palavras que me ferem, que me revoltam, que são o motivo da minha sempre culpa, não me fazem bem? Alguém se importa? Não, porque cada um diz o que quer sem medo de ferir esse estúpido coração. Então, por que será que eu não posso me destruir? Por que será que não posso dizer o que quero pra me ferir? Por que será que não posso sentir raiva de mim mesma por não ser quem eu gostaria de ser?
E quem eu gostaria de ser? Também não tenho resposta pra essa pergunta. Talvez alguém que fosse totalmente imune aos sentimentos. Mas, por enquanto, eu sou aquela que sempre leva a culpa, posta por mim mesma, pelas atitudes dos outros, pelos atos impensados dos outros, pelas palavras frias dos outros. Aquela que se importa demais com os outros.
Acho que o que eu sempre procurei foi a perfeição, e por isso eu acabo me atropelando. A perfeição não existe, e todos podemos errar, não? Não. Eu não perdôo os meus erros. Eu não me permito errar, não me dou ao luxo de estar sempre equivocada. Errar é pra perdedores? Não sei, mas acho que se torturar por não conseguir consertar o erro dos outros é pior. E acho que desistir de tentar também... Ou simplesmente se esquecer, se abandonar, se deixar pra lá. Se odiar, como eu me odeio. E as pessoas que me amam, ou que dizem que o fazem, não conhecem esse meu lado. Aliás, nem eu o conheço bem... No espelho, existe só o meu reflexo. Mas quem teria coragem de rasgar meu peito e me conhecer por dentro?

O início

Por onde devo começar? Pelo início, talvez. Ou talvez não haja um início. Pois bem, não há explicação para esse espaço que criei, onde escreverei qualquer coisa que me vier à cabeça. O fato é que me consolo escrevendo o que penso, ou às vezes tentando, porque nem sempre entendo meus pensamentos. Eu sou assim, qualquer coisa estranha que ninguém consegue entender. É difícil pensar em palavras que me descrevam ou que me definam... E eu não quero definições, não por hoje. Meu nome? Sara. Ou talvez não, mas eu gosto de Sara. E combina comigo, porque, como na música do Paolo Meneguzzi, a Sara quer mudar o mundo.
É, eu sou apaixonada por música. Às vezes mais do que por leitura, porque muitas músicas conseguem definir meu estado de ânimo momentâneo. Mas o que cantam as músicas? Além de melodia, há palavras, letras que compõe toda a essência do que traduz a vida de muitas pessoas como eu, que procuram explicações e definições para fases passadas ou futuras. Ou simplesmente para o que são de verdade. Eu, por exemplo, não sei o que sou de verdade... Mas isso é outra história. Por enquanto vou me encontrando em palavras; as mesmas palavras que eu tanto gosto de escrever. E seria o bastante?