21.9.08

Tempo é vento, vendaval

O tempo voa pela vida e muitas coisas ficam pra trás. Ficamos nós pra trás, esquecidos em um canto qualquer. Deixamos frases, fotos, fatos, beijos e abraços; deixamos o que somos e o que queríamos ser, deixamos sonhos novos e sonhos já sonhados, deixamos o ser, simplesmente só.
A infância passou, os bons tempos ficaram presos em fotos, porque a memória, se não me falha agora, já me falhou. Ficaram presos os risos, os brinquedos, os cheiros e apegos. Ficaram as cartas, os lençóis, o som da televisão.
A adolescência vai passando no mesmo ritmo, desenfreada e totalmente sem dó; a água vai jorrando por entre os dedos, a água do mundo acabou. E o relógio faz barulho, o relógio não pára, a pilha não acaba, o mundo não cansou.
Os heróis foram esquecidos, tantos diários escritos, tantas novelas e o amor. Nada fica agora, nada jamais ficou. E as palavras, essas não valem nada, não compram o tempo, não ficam guardadas. As palavras são pássaros e têm asas, e voam pra longe, e se perdem no céu, além do horizonte; ali onde eu não vejo, não alcanço, não almejo porque não posso.
Queria eu ter uma caixa para guardar lembranças, com cadeados de nada; queria escrever em papéis de nada, com lápis sem borracha, com cola e adesivo. Queria agarrar as memórias, os momentos, os amigos. Queria um armário pra colocar tudo isso.
Seria em vão, de qualquer jeito, porque as pessoas são ocupadas e não lêem diários, e não abrem armários, e perdem as chaves, e as deixam perdidas e não as encontram mais. Os momentos passam, as promessas nunca tiveram valor, o tempo leva tudo, tudo o tempo já levou.
O tempo só não leva as dores da saudade de quem quer dormir pra sempre; só não leva a solidão dos que já tiveram as memórias levadas. Solidão, nostalgia, solidão de novo. Isso o tempo não leva, isso é só o que fica.

19.9.08

Medofobia

Eu tenho medo de dormir. Todas as madrugadas eu acordo assustada, pesadelos viraram presença constante em meus sonhos que já foram bons. O escuro me dá medo também, aquelas sombras das quais já gostei tanto. A porta do quarto aberta também me assusta, inquietação.
Tenho medo também das manhãs frias, de molhar as mãos na água gelada, de tirar a roupa quando está ventando. Me dá pavor sair de casa, o barulho dos meus passos, os carros na rua, pessoas lá fora.
Medo das palavras que os outros falam também é medo ruim, os olhares me fitam tão assustadoramente que eu não posso evitar a vontade de chorar. Também me dão medo minhas lágrimas, não posso fugir dessa dor aqui dentro. Dói tanto e eu não sei aonde, dói e eu queria poder curar. Acho que essa dor é medo. Ou talvez seja medo de dor, medo do medo que dá sentir dor, sentir medo.