2.2.08

Já não mais meu balão

O amor não perdoa. Sempre nos puxa pelas pernas no momento em que menos esperamos. Quando tudo parece um sonho, dos mais lindos, você acorda. O mundo cai nas suas costas, a sua cabeça explode com idéias e pensamentos que mudam totalmente a cada cinco minutos e, de repente, você não sabe mais porque está naquela situação. É como se você fosse uma criança, com um balão de gás na mão, brincando no seu mundo, na sua felicidade, quando, sem explicações, alguma coisa estoura o seu balão. O vento, um galho de árvore, a unha de alguém. E você fica ali, perdido, sem rumo e sem balão. Você não sabe se pensa numa razão pr'aquilo tudo ou se chora por ter ficado sem a sua fantasia, sem o seu balão. E o que você faz agora?
É assim que eu me sinto. Uma criança sem o seu balão. Os sonhos eram lindos até aquela maldita noite... E só de pensar que a idéia foi minha... Mas só a idéia, não a culpa. Diferente de todas as outras vezes, eu não tive a culpa. Alguma coisa estourou o meu balão e eu simplesmente não vi. Não percebi que talvez ele estivesse chegando perto de um caco de vidro ou de alguma coisa que pudesse machucá-lo. Talvez eu não o tenha cuidado como deveria, mas o meu balão era leve demais. Foi levado pelo vento, sem que eu pudesse impedir qualquer coisa.
E o coração, pra que falar desse ainda? Tão sem regras, tão sem dó. Não se contenta com pouco; o sofrimento deve ser servido na maior porção possível. Saboreá-lo devagar, é tão demais que a refeição deve ser lenta. E demora, demora, demora... E você se cansa de lutar contra isso, de acabar com ele. Esquecer? Uff, nunca existiu coisa mais difícil! A presença que te mata, a palavra que te sufoca. A sua garganta nunca esteve tão entalada e você, tão afogada, tão miserável.
Pensar no amor é como não pensar em nada... Não existe definição, explicação ou qualquer coisa que o valha. Em um minuto ele existe, no outro é forçado a desaparecer pela alma sofrida. Ele está ali, oculto, como uma ferida aberta, profunda, sangrando. Você não tem como curá-la, ela deve fechar-se sozinha... Mas parece que até a eternidade é menos tempo do que o que levará pra que se cure. Enquanto isso, você dá atenção àquele turbilhão de idéias na sua cabeça, quando nada faz sentido e nada parece certo. O que fazer quando cada parte do seu corpo pede uma coisa diferente? Cada pensamento teu é um ato com consequência? Sem ação, assim eu fico. Sem ação. Esperando que passe o tempo, que corra a areia, que caia a chuva, que molhe o chão. Que, talvez, o vento traga de novo o meu balão. Ou não.