22.1.08

No espelho

Eu me odeio. Isso é um fato consumado, eu sempre me odiei. Nunca pude me ver como os outros me vêem, nunca pude acreditar no que me dizem sobre o que sou pra eles. Pode ser que me amem, mas são os únicos então. E tampouco acredito nisso. Ou às vezes sim, mas não consigo entender o motivo... Eu sou um ser repugnante. Talvez as pessoas o entendessem se conseguissem ver o que eu vejo. Talvez, se sentissem o que eu sinto, conseguissem pelo menos aceitar o fato de que é possível não existir amor próprio dentro de alguém. Claro, às vezes gosto de algumas coisas em mim - como a maneira de pensar crítica e racionalmente, o sentido de justiça, algum senso de preocupação com o mundo. Mas isso não é o bastante, definitivamente. O motivo? Nem eu entendo bem. Às vezes me dá raiva não ser compreendida pelas pessoas, mas como quero que me entendam se nem mesmo eu o faço?
É difícil encontrar o ponto que te irrita em você mesmo, porque, na maioria das vezes, você já está tão acostumado com o seu próprio jeito que não pensa que poderia ser diferente. Mas tem horas que eu penso, sim, que poderia ser diferente...

A primeira coisa que eu odeio em mim, e o que me faz odiar todo o resto, é o fato de eu sempre me culpar por tudo. As pessoas são infantis, as pessoas agem mal, as pessoas não pensam antes de dizerem coisas que possam me magoar, mas não! A culpa não é das pessoas, a culpa é sempre minha. Porque eu não sei lidar com as mentiras que as pessoas contam, porque eu não sei aceitar o fato de que não consigo controlar certas situações, porque eu não consigo contornar meus sentimentos - que são provocados por ações de terceiros. E por isso me sobe aquela fúria, aquele ódio de mim mesma, aquela vontade de enterrar uma faca no meu coração. Aliás, como existem pessoas que conseguem ignorar o coração? Eu gostaria de ser uma delas, sinceramente. Acho que meus problemas diminuiriam de forma bem considerável. Não sei porque me importo tanto com o que sinto; e mais, não sei porque deixo transparecer tão facilmente que não estou bem. E por que as pessoas não acreditam quando eu minto, dizendo que não aconteceu nada? Será que sou tão transparente a ponto de não acreditarem em minhas palavras? Ou será que digo palavras falsas, sem nenhum pingo de verdade?
Eu não sei, eu não encontro solução pra nenhum dos meus problemas. Pode parecer besteira, mas me perturba o fato de não me deixarem em paz. Vai lá, por que não posso me odiar? Só por que não me faz bem? Aham, tudo bem, mas e quando as palavras que me ferem, que me revoltam, que são o motivo da minha sempre culpa, não me fazem bem? Alguém se importa? Não, porque cada um diz o que quer sem medo de ferir esse estúpido coração. Então, por que será que eu não posso me destruir? Por que será que não posso dizer o que quero pra me ferir? Por que será que não posso sentir raiva de mim mesma por não ser quem eu gostaria de ser?
E quem eu gostaria de ser? Também não tenho resposta pra essa pergunta. Talvez alguém que fosse totalmente imune aos sentimentos. Mas, por enquanto, eu sou aquela que sempre leva a culpa, posta por mim mesma, pelas atitudes dos outros, pelos atos impensados dos outros, pelas palavras frias dos outros. Aquela que se importa demais com os outros.
Acho que o que eu sempre procurei foi a perfeição, e por isso eu acabo me atropelando. A perfeição não existe, e todos podemos errar, não? Não. Eu não perdôo os meus erros. Eu não me permito errar, não me dou ao luxo de estar sempre equivocada. Errar é pra perdedores? Não sei, mas acho que se torturar por não conseguir consertar o erro dos outros é pior. E acho que desistir de tentar também... Ou simplesmente se esquecer, se abandonar, se deixar pra lá. Se odiar, como eu me odeio. E as pessoas que me amam, ou que dizem que o fazem, não conhecem esse meu lado. Aliás, nem eu o conheço bem... No espelho, existe só o meu reflexo. Mas quem teria coragem de rasgar meu peito e me conhecer por dentro?