7.5.08

Desabafo secreto

Ontem mamãe me disse: Pára de chorar por tanta besteira, não é o fim do mundo. Ah, se ela soubesse... Se ela soubesse que o fim do meu mundo é o fim de qualquer coisa pela qual vivo; somente por momentos e não por um futuro, pura e simplesmente respirar é a minha vida.
Mãe, se você soubesse de tudo o que acontece comigo, se soubesse que meu coração tantas vezes quis deixar de bater, se soubesse que tenho vontade de gritar que não pedi pra nascer... Você se decepcionaria comigo, é certo, como sempre me decepciono. Não sou normal, mãe, nunca serei como as outras pessoas...
Eu sinto dores exageradas, que rasgam minha alma a punhaladas, dores que não perdoam. Eu sinto um ódio repulsivo por essa vida de tantas guerras, somente porque nunca soube lutar. Eu sinto uma vontade avassaladora de fugir, de deixar esse mundo, de largar dessa sina de viver meus dias sempre iguais. Eu, mãe, alimento sonhos quase absurdos, impossíveis para qualquer ser humano. Ou talvez não, mas eu nunca fui otimista, você sabe bem. Eu nunca me achei capaz de realizar nada grandioso, nada do tamanho imenso dos meus meros sonhos.
Mãe, vez ou outra eu gosto da vida; aprecio o verde da natureza e o canto dos pássaros nas manhãs de domingo, aprecio o vento calmo antes da chuva e o mar vazio de gente, mas são momentos em que esqueço o mundo lá fora. Esqueço que a vida é difícil, que tenho que ser forte; esqueço que sou estúpida e deprimente.
Sou deprimente, mãe, deprimente. E não faça nada por mim, porque eu não mereço. E talvez não te mereça, não mereça esse céu que jaze sobre a minha cabeça e do qual tanto quis e quero ainda fazer parte. Não mereço a vida, mãe; me perdoe, mas eu não mereço a vida.