24.4.08

Imagem meramente ilustrativa

Sempre me dizem que tenho o dom da escrita. Pois bem, não é o que eu acho. Queria eu conseguir dissertar divinamente sobre qualquer coisa, sem nenhuma dificuldade. O problema sou eu, como em todos os casos: eu escrevo sobre qualquer coisa que me venha à mente, não sobre temas já antes manipulados. Eu escrevo sobre o amor de uma forma um tanto quanto melancólica, perdida. Escrevo também sobre o ódio, por mim ou não, porque não somente as coisas boas merecem ser interpretadas. Escrevo sobre a vontade ou a falta dela, a força ou a falta dela, eu ou a minha própria falta. Escrevo sobre os carros na avenida, o silêncio da cidade quando anoitece, aquelas árvores agora antigas. Sobre o céu, de manhã ou não, as estrelas ou a chuva, qualquer coisa que eu veja, até mesmo um raio de luz. O que eu sinto, o meu espírito, a minha mente perturbada.
Escrevo, sem regras ou maneiras; quase despejo palavras sem ao menos pensar antes. Escrevo porque esse é meu vício; tenho uma necessidade quase absurda de me expressar de algum jeito. Às vezes a voz não sai mesmo, ou não quero manifestar-me através dela. Por isso escrevo. Porque me faz bem, porque me desafoga do mar que tantas vezes eu sou, inquieto e turbulento, brutalmente desumano. Escrevo porque as palavras pedem pra sair de dentro do meu peito, porque desconfio que pela minha mente não passem quando me desespero. Escrevo, escrevo, somente. E não acho que possam entendê-lo; e não quero que realmente entendam. Não espero que me entendam quando nem mesmo eu o faço.
E me pedem dissertações... Me pedem para escrever sobre temas banais, e o mais fácil eu não consigo fazer. Me pedem para avaliar o mundo moderno e suas praticidades, o homem através do tempo, o preconceito e a educação no Brasil; me pedem para analizar a mentira contra a verdade, as necessidades do ser humano, a vida daqui a vinte e cinco anos. Querem opiniões e eu estou cheia delas, no sentido literal e figurado. Sou um copo transbordando: tenho muito a dizer e nenhuma idéia que realmente expresse tudo o que eu penso sobre assuntos diversos. É difícil escrever quando você não quer dizer nada. É difícil expulsar alguma palavra de dentro de você quando não se sabe o que está procurando. É difícil ser outra pessoa quando você quer ser a mesma menina confusa, que escreve sobre a vida de um modo diferente, quase triste de tão nostálgico. É difícil não usar a personificação, a metáfora e a hipérbole quando não é você quem escreve, quando as palavras saltam de você quase sem querer. É difícil... E eu não gosto de desafios. Venci nessa vida poucas batalhas, e nenhuma significante o bastante para que eu me lembre com glória. Talvez tenha me orgulhado de mim algumas vezes em dezessete anos de existência, mas certamente não foi por uma redação.
E continuam me dizendo que tenho o dom da escrita, ora essa! Eu não tenho nenhum dom, tenho certeza. Eu mal consigo organizar meus pensamentos! Acho que tenho é uma paixão pelas palavras, um caso de amor com a mágica dos textos. Eu não consigo passar por letras e não juntá-las, é uma doença incurável, é como um carma. E eu leio muito, é verdade, mas leio pelo simples e puro prazer de absorver detalhes, poesias, caminhos da vida. E talvez tenham a impressão de que escrevo bem por isso. Mas ninguém nunca entendeu a alma dos meus rabiscos, porque contos ou crônicas assim pré-definidos eu não faço. Eu rabisco, rabisco palavras que por acaso fazem sentido quando montadas nesse quebra-cabeça que é a folha em branco. Eu só rabisco, rabisco, rabisco... E ainda me cobram as malditas dissertações!